segunda-feira, 27 de agosto de 2018

O caminho - Em modo Variações.



Eu quero chegar lá aonde não cheguei. 
Eu quero aquele lugar onde não posso estar. 
Quero ver as pessoas que não consigo ver. 
Quero sempre dizer aquilo que acabo por não dizer. 
O querer mais no amanhã, daquele que não o é agora. 
Constantemente a desafiar a lei do caminho que deve ser o caminho. 
Uma maniazinha de furar mais ali na esquina ou de escolher aquele trilho que não era suposto. Aquela irritante teoriazinha do dar tempo ao tempo e tudo virá. 
Aquele insistir em mudar o rumo, quando tomo o lugar do António Variações e passo a estar bem onde não estou.

ahhhhhh vida, vida. Minha queria amiga. Companheira ciumenta do caminho.

Foram tantos e tantos os posts sobre regressar a Portugal. 
Tantos mas tantos. 
E regressei. 
Estou assim meio que a meio. Talvez se tivesse arranjado um lugarzinho ali na costa Francesa a meio caminho - Bordeaux ou Nantes... assim meio a meio, tivesse sido mais fácil!. 

Estou cá e lá que é para não sentir nem muito o regresso nem pouco a despedida.
E a vida tem sido tão vertiginosa que os meses estão a passar e ainda há tanto por alinhar. Mas é tão bom recuperar o ninho aos poucos. Recuperar aqueles almoços de domingo, o mar em frente, reconhecer os amigos que esperaram por mim e ainda me querem do lado. Mesmo aqueles que ainda não consegui ver e os novos que já fiz.
6 meses já contam novas estórias que já fazem história. E lá vem o Variações desalinhar os meus chakras.
E agora acrescento: LOL.
mean it!
Laughing Out Loud.

É que agora sei, que o que doeu ao longo dos anos foram apenas escolhas. Porque agora sei que escolhas trazem sempre um trade-off agridoce que nos fazem querer estar onde não estamos. Não existem lugares perfeitos, empregos perfeitos, pessoas perfeitas. E se não somos perfeitos,  como poderiamos exigir perfeição em tudo o resto?

E finjo ter paciência para a incerteza, para os medos que assaltam em vésperas de novas mudanças.
O meu avô Jo diz que isto é viver intensamente. Que assim seja. 

Porque fazer este caminho, tomando-o como garantido, é errado. A vida dá e tira num piscar de olhos. Há quem diga que a liberdade e a sabedoria são o melhor que se leva daqui. Que se leva não sei, porque a vida vai parar um dia, e eu não sei para onde vou, nem o que vou levar comigo. E se for para o céu como gosto de pensar, então vou lá ter tudo o que precisar e ver toda a gente que quero ver.

Mas, se for mesmo isso que se leva daqui, então que sejamos livres no ser, no estar, e que possamos guardar sabedoria suficiente para amar e querer. Que a vida é breve, e ciumenta.


ps - Escolhi esta fotografia tirada em Fátima porque primeiro, a adoro. Adoro a calmaria das nossas expressões. O descanso do lugar e da pasmaceira garantida que lá se viveu. Mas, também porque o ano 2018 é marcado por uma distância de 20 anos desde que a a minha Mãe morreu. E foram 20 anos que agora, a cada mês que passa, tento torná-los mais doces. A idade traz-nos alguma inquietude e um querer viver mais, mas também melhor. A mágoa e a dor ocupam-nos sempre demasiado espaço.