domingo, 4 de setembro de 2022

Joaquim Vaz de Oliveira

Joaquim.

Um dos nomes mais bonitos que já ouvi. De apelidos herdei o último, mas muitas vezes conversámos sobre o porquê de eu não ter o Vaz. Não sei o que as pessoas conhecem do meu avô nem que estórias viveram com ele que ficassem para a História, mas o que eu sei e vivi foi bonito. Tão bonito que me fez voltar a uma escrita adormecida há uns anos.


Quando olho para esta foto sinto gratidão. Sinto-a porque desde esse dia que nos foi concedida a possibilidade de criarmos memórias juntos, durante 36 anos. E, ainda bem que assim foi, todas elas são importantes para me preencher os dias. 

O Joaquim foi o único avô dos meus dias. Não conheci outro. O avô das viagens, dos árabes, das áfricas, dos Ray Ban, das canetas Parker, da pesca, do jornal do Fundão, do senhor abade e do ceguinho que saltava pelo pão com azeitonas, do Carvalhal, da salada, da fruta, da paciência, das voltinhas de triciclo e das idas ao circo chen onde comprava queijadas de sintra, pipocas e algodão doce.

A mim, pediu-me o mais dificil: que o acompanhasse à faculdade de Medicina porque queria doar o corpo à Ciência aos 82 anos de idade. Ri-me e disse-lhe que o fazia mas que não se preocupasse porque ainda duraria até aos 100! Sem diabetes, sem hipertensão, sem doenças crónicas além de depressões, questionei-me a rir sobre o que iriam estudar e saber sobre ele.

Viveu até aos 93 anos. Uma pandemia impediu que estivesse com ele durante os 2 meses anteriores à sua morte. Caiu na sala depois da sua sesta. Fraturou o femur e, numa transferência de hospital com o objetivo de ser operado, uma gota de gordura antecipou-se e invadiu-lhe uma artéria, levando a uma embolia.

Tenho saudades deste colo, destas mãos grandes cheias de manchas. Sabia-lhe de cor todos traços. Olhei muitas vezes de cada vez que me despedia dele para ir para Londres. Criei essa memória porque sempre receei que não esperasse por mim. De nada me valeu perante a pandemia.

Morreu no dia 7 de Abril de 2021, dia Mundial da Saúde e o seu corpo foi entregue à Faculdade de Medicina como assim desejou. No dia 14 de Junho de 2022 regressou para nós. Em breve sei que libertaremos as cinzas no seu Carvalhal em plena Serra da Gardunha.

A vida e o amor querem se livres.

Lembro as últimas palavras ao telefone no meu aniversário um mês antes, "A minha netinha. Saúde, sorte e algum dinheirinho para os gastos" <3