domingo, 19 de abril de 2015

Você Tem que aceitar, viu?




Além de tudo o que a ausência provoca. 
Além de tudo o que as emoções esgotaram.
É a força que esta saudade tem.
É o não saber de ti. 
É o não fazer parte da lista de pessoas a quem contas o que te aconteceu.

E imagino o dia em que os teus olhos me vão ver de novo.
E imagino o cheiro do perfume que me vais dar.
E imagino se ainda vou querer encostar a minha cabeça em teu redor.

Porque hoje ainda quero tudo isso. 
Como ontem.
Não dá para explicar.

sábado, 18 de abril de 2015

La Fuga


A emigrante que não quer ser emigrante.
Aquela que saiu sem saber exactamente porquê.
Aquela que ao chegar já queria voltar.
Não à criação de raízes.
Não ao assentar como todos os outros.
Não à normalidade dos outros.
Não ao querer ficar.
E ir para onde?
Voltar para o quê?
Meia dúzia de incertezas e mais alguns porquês.
Uma resma de forças e nem falo francês!
Quando vagueia pelas ruas assiste a casais felizes, a multidões que urgem chegar ao escritório, a almoços em movimento em que se o garfo cai no chão por um empurrão, já o dia começa a correr mal!
Assiste ao passear do cachorro pelo parque, aos primeiros passos do bebé e ao desportista madrugador.
Como assentar num país onde não se quer ficar.
Como arranjar o cachorro se não se tem casa própria.
Como convidar amigos a jantar se a casa é partilhada com estranhos.
Como comprar o carro se conduzem ao contrário.
Como discutir com alguém que não sabe da tua cultura?
Mas lá fora é que é bom. Lá fora é que se está bem. Portugal não é para si.
E vai chegar o dia em que vai aceitar que vai ficar?
Ou vai continuar a adiar cada investimento, cada vontade, cada prioridade?
E vai andando na altivez dos elogios profissionais.
E vai à procura de alternativas.
Vai na encruzilhada do labirinto da fuga.

domingo, 12 de abril de 2015

UM BRINDE


Parabéns à minha avó Lu.
81 primaveras como dizem.

A mãe foi uma perda dura de aceitar. A vida trazer-me a P. foi uma dádiva.  A oportunidade de ser recebida num ceio familiar sem qualquer ligação sanguínea e ser estimada como sou, não tem explicação. Este sentimento de família, de amor, de estar, de fazer parte...
Sou demasiado abençoada e esqueço-me muitas vezes.
3 avós em 30 anos. Não é para todos tal privilégio. 
A avó Lu abraça-me com o amor e carinho leal e verdadeiro como reciproco  que é. Estivemos agora ao telefone como duas amigas confidentes e com uma alegria contagiante. Tem me ensinado muito ao longo destes últimos 10 anos. Tem me ensinado a querer muito. A acreditar muito. A saber esperar em harmonia. E, trouxe de volta a crença e a fé perdidas em mim. E trago-a no coração na mesma medida que trago a avó China e a avó Ag. Ocupam o mesmo espaço e têm o mesmo amor. "Porque quando a gente ama é claro que a gente cuida".

FELIZ ANIVERSÁRIO

sábado, 4 de abril de 2015

És o maior Pavarotti.


Já me tinha esquecido de como era sentar-me assim no chão, envolvendo os joelhos nos braços à espera que a crise passe. Que a fase aguda da dor no peito sucumba. Se evapore. Faz me lembrar um pouco a ressaca e o álcool. Também dizemos sempre que nunca mais bebemos. Também dizemos sempre que nunca mais nos vamos apaixonar ou deixar levar por qualquer coisa dessas, ou o que quer que seja isso! Fechar os olhos e deixar as lágrimas escorrerem pela face até penetrarem nos lábios e nos oferecerem aquele gosto meio que salgado e doce?! Nem sei descrever. Sei que tem um sabor. Sei que o conheço, quando assim acontece. Eu preciso destes tempos. Destes momentos. As coisas precisam de lutos e as pessoas também.
E depois sinto que estou a alucinar!! Ponho Pavarotti de fundo. E ele e o meu amigo Sting resolvem a situação e acabo a rir que nem uma louca! Eles têm o poder de me dar colo quando preciso. Pois não há banda sonora melhor para me levar até à minha mãe, do que eles. É o som da minha infância, de férias e pequeno almoços na varanda de Sesimbra. E volto lá. E aí o colo é o preciso, é uno e reconfortante. Mesmo que imaginado. Surte o efeito desejado. As lágrimas saem em desespero, a alma fica lavada e a vida recomeça. Agora vou ver um filme e amanhã é dia de Páscoa. E, como tal, tudo se ressuscita. Estou pior. Ai nossa.