Hoje é um daqueles dias que não deveria mesmo ter saído da cama. Ou melhor, ontem....ontem foi um daqueles dias em que nunca deveria ter saído da cama, visto que são exactamente 00:10m. Estar sozinha é isto. É estar na cama, de luz apagada, com este pc à frente e aqui a despejar sentimentos e porcarias para tentar dormir mais leve. Tentar porque há noites que não durmo bem. Deve ser o PDI porque nunca antes me aconteceu. Mas como tudo, irá passar.
Por esta altura da leitura já se perguntam "ui que a moçoila está na mó debaixo." E eu respondo, por vezes gosto de encarnar personagens e não, talvez não esteja na mó debaixo.
Acho claramente que vou desistir de ser enfermeira e vou ser uma escritora a sério. Vou mesmo tentar escrever um livro. Que tal?
Ontem foi um daqueles dias para esquecer. Mais pessoas existissem naquele hospital, mais pessoas teria embirrado com. Por momentos pensei...estarei TPM? Tudo é para perguntar à enfermeira. Os médicos perguntam, os porteiros perguntam, os familiares perguntam, os doentes perguntam, a directora pergunta, as recepcionistas perguntam, o cozinheiro pergunta, o engenheiro pergunta, o electricista pergunta....TODOS NO HOSPITAL PERGUNTAM AO ENFERMEIRO!!!! Não há profissão mais polivalente que a minha. Eu faço tudo num hospital. É impressionante. Descarregam e cansam-nos até não dar mais e, como estamos sempre a sorrir...no dia em que não aguentas mais, estas personagens afirmam docemente entre dentes, uma barbaridade, para que possamos ouvir aquilo que eles acham que não vamos ouvir mas que os fez ficar mais leves porque o disseram??!! Fiz me entender?? Não? Pois foi exactamente nesse momento que me saltou a tampa. O que mais odeio é uma pessoa não me dizer na cara o que está a pensar sobre mim. E o que mais adoro? Ver essa pessoa toda enxufrada quando a confronto com a verdade. O meu pai sempre me ensinou que o mais difícil é quando se tem a razão. Hoje...ontem, eu tinha.
Mas afinal de contas não são os dias que não me vão correndo bem. É tudo uma mistura aqui dentro.
Comecei o dia a ver um casal com toda a certeza juntos pra lá de 40 anos... se os vissem a dizer adeus quando ela entrava no bloco operatório?! A maneira como ele disse I love you, mesmo como no cinema. Os Clã devem ter mesmo razão, na língua inglesa fica magnífico. Depois, a minha chefe chega hipermega contente porque o namorado a pediu em casamento num fim de semana romântico que tiveram. Depois mais uma pessoa de bebé, o que é sempre bom e alegre. E depois e depois uma série de coisas.
Depois de 12 horas enfiada naquele hospital, dei por mim num autocarro a caminho de casa no meio de Londres e senti-me a pessoa mais sozinha deste planeta. Os phones também me balançavam ao som da música mais deprimente, o que talvez não tenha ajudado mas, o que não facilitou de todo foi o seguinte episódio:
No. 1 Imaginem a velhotinha inglesa mais velhotinha, tipo cabelinho branco muito armado e arranjado com aquele colar de perolas branco e brincos semelhantes, toda muito a condizer e toda muito fofuxa que só dava vontade de apertar com aquele olhos azuis de água a saltarem-lhe da face. Imaginaram?
No.2 Imaginem aquele casal de namorados bimbo no passeio, literalmente a comerem-se na rua em que ele não só lhe engolia a face durante os beijos nojentos como também lhe apalpava todas as partes traseiras para quem quisesse ver.
No.3 Imaginem me a olhar de dentro do autocarro, de cabeça encostada no vidro, com o ar mais deprimente e desarranjado depois das horas de trabalho supraditadas e com a música deprimente acima mencionada.
No.4 Imaginem a velhotinha a olhar para mim quando o autocarro avançou no sinal verde (e deixámos de ver aquelas figuras) e dizer:
Don't worry Miss... the old fashion way is still the best way.
ps- Não sei o que me deprimiu mais, se a música, se a vista, se a velhinha ou se o don't worry MISS....
Afinal hoje não vim para aqui dizer nada de jeito.
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