sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Still don't know how...

E ali estava eu outra vez. Mais um médico da Consulta Externa que me telefonou a pedir para estar com ele presente na Consulta. Naquelas consultas impróprias para a minha pessoa. Mais um diagnóstico lixado, mais uma vida abalada, mais uns sonhos traídos, mais um período adiado.
Ela sentada, o marido na cadeira do lado e, o médico lá começou..." o resultado não chegou como o previsto, infelizmente as notícias não são as melhores mas vamos ser positivos. Você só tem 38 anos".
Ó senhor doutor médico deixe-se de merdas e avance com o veredicto pensava eu.
"Infelizmente tem um cancro. Mas olhe que é de estadio 1, todas as hipóteses em aberto".
Todas as hipoteses em aberto? Vá à merda. Que hipotese em aberto é que uma mulher tem depois de já ter vencido um cancro da mama há três anos atrás. Tudo de novo? Tudo abalado outra vez? Não bastou uma vez?? Está este singido ao útero ou já está por todo o lado??
Ó que mundo injusto. Ó que mágoas que me assombram. Num momento acho que estou bem, que segui a minha vida, que tudo passou. Mas, depois nestes segundos em que por azar os médicos só me querem a mim na sala desfazem-me em pedaços. A minha doente firma e hirta a receber esta bomba e eu só me apetecia desfazer-me em pó.
Mas lá fiquei, lá ouvi, lá permaneci. De cada vez que oiço isto, sei que continuo a mesma descrente no que toca a esta doença. Para mim, não há sobreviventes. Há aqueles que continuam a lutar com forças do além. E há os que por cansaço adormeceram. Quando tenho de ouvir isto, a minha raiva e tristeza sai do buraco fundo que está escondido em mim e assalta-me a gaveta das memórias e traz cá para for tudo o que há de mais feio. Tudo o que há de mais cruel no que toca a pensamentos.
Por algum motivo não consigo trabalhar em Oncologia. Sei que não ía fazer um bom trabalho, sei que não ía ser boa enfermeira. Talvez por isso queira ir trabalhar ao que chamam o Terceiro Mundo. Salvar pessoas de outra maneira, com outros problemas. Eu sei que isto é de um egoísmo extremo e é por isso que me orgulho de ter a G. na minha vida, que é a melhor enfermeira no IPO português. Engraçado que nos inscrevemos no mesmo dia para ir para lá trabalhar. Até hoje, nunca fui chamada.

E a lição do dia?
A doente olhar para mim aquando a saída e dizer:
" Maria, obrigada por tudo: Já venci um, outro? Piece of cake!"

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