domingo, 21 de junho de 2015

Percursos de uma Enfermeira Chefe, Senhor Primeiro Ministro

Eu deveria criar uma Etiqueta para #cartas de Passos porque de facto Sr Primeiro Ministro escrevo-lhe tanto, de tempos em tempos. Mas olhe que ainda não aceitei o acordo ortográfico. Portanto, não se desiluda com isso também.
Esta semana, recebi a notícia de que a minha entrevista para Enfermeira Chefe foi "outstanding Maria!" e, o lugar foi me dado a mim. Enfermeira Chefe. Sister, em terras de Sua Majestade. Uniforme azul escuro. Vestido, prefiro vestidos.
Agora, o que o Sr Primeiro Ministro não sabe é que demorei 2 dias para ganhar coragem para dizer à minha família e alguns amigos. Coragem... precisei de coragem. Pode isto? 
Estou há 2 anos, mês após mês, visita a Portugal após visita, à procura de emprego na minha área - Enfermagem em Fertilidade. 
Tomei a decisão de partir para Londres - eu NÃO EMIGREI - (muito antes da sua sugestão, que o Senhor se recusa a assumir mas que eu me lembro das suas palavras nesse mesmo dia!) em 2009. Comecei pela cirurgia plástica. Depois mudei de Hospital e segui Ginecologia. Fiz pós graduação (o intuito da vinda!) e ali continuei até ser Senior. Mudei novamente há dois anos e meio para uma das clínica de Fertilidade com mais prestígio no reino Unido. Em 2012 quando comecei, comecei novamente do zero, como uma enfermeira júnior. Quis fazer de tudo para me especializar porque pensei que assim seria mais fácil regressar para Portugal. A especialidade em Fertilidade seria uma boa promessa para o meu país. Desde então... Júnior, depois Acting Senior, depois Senior e agora... agora Sister
Que mais Sr Ministro? 
Sabe que a última resposta que recebi de uma das clínicas de Portugal foi de que tinha muito no meu CV. 
E agora? Acha que deva acrescentar mais esta?
Coragem.
Coragem foi o que precisei para informar a minha família. Família que está cansada de me ver chorar. O meu pai nem sabia o que dizer quando eu só chorava a dizer que era enfermeira chefe. Ninguém chora com uma notícia destas. 
Coragem é o que vou precisar para seguir.
O Senhor viu a família hoje? Jantou bem? O seu motorista foi buscá-lo?  Que bom.
Olhe, eu acordei e estive a comprar o bilhete dos transportes durante os 4 dias que vou estar em casa para o aniversário do meu pai. Este ano consigo ir! Jantei aqui sozinha no meu quarto. Sim, partilho casa porque neste país não ganho o suficiente para ter casa própria. Carro? Também não. Mas cá fora é que se está bem, não foi o que disse? 
Eu agora respondo-lhe: estamos bem porque somos reconhecidos profissionalmente por todo o nosso trabalho, dedicação, rigor e profissionalismo. Mas não somos reconhecidos emocionalmente. Porque para esse reconhecimento é preciso termos do nosso lado quem mais amamos.

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