Posso gritar-lhe. Posso ralhar e perguntar porque se foi embora. Posso revoltar-me e exigir que tivesse ficado. Posso fazer mil e uma coisas mas nunca a trarei de volta.
Então viver assim tem sido uma aprendizagem. Uma solidificação de ideias e sentimentos em cada passar de anos. Na verdade, uns anos mais seguros, outros nem por isso e ainda outros mais perdidos. Mas, sempre ouvi dizer que tudo se cria. Tudo se transforma e cresce. E, eu não fui excepção.
Agora, mais do que nunca, a saudade revela-se de uma outra forma. Não tanto aquela necessidade educação e encaminhamento mas mais numa forma física e de sentimento de pertença e de segurança. Há dias ouvi de que quanto se perde uma mãe, perde-se também a infância. Para mim é de todo uma grande verdade. Aos treze, catorze anos as minhas barbies deixaram de me fazer sentido, assim meio que de repente.
Mas, de momento, nesta fase adulta seria magnífico vê-la envelhecer do meu lado. Conhecer-lhe os cabelos brancos, sabendo de que cor os iria pintar na próxima ida ao cabeleireiro. Conhecer-lhe a carreira e a sua opinião face à minha. Conhecer o seu estilo a vestir, o tipo de jóias preferidas, o perfume que estaria a usar, a maquilhagem, os sapatos, o carro...! Saber o que pensa sobre o meu coração, sobre os homens da minha vida, sobre os meus empregos, sobre o que tenho construído. Ir com ela escolher um vestido de noiva, tê-la do meu lado numa maternidade quando chegasse a minha hora. Coisas de mulheres e de meninas.
Por outro lado, vai existir sempre dentro de mim uma mãe jovem, de uma pele morena e sardenta com um sorriso gigante e maravilhoso. E isso, está gravado aqui dentro. Não preciso de fotografias ou vídeos. Já sei de cor. Já sei de cor. Já sei de cor.... e eu cresci, independentemente de tudo isto.
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