domingo, 17 de novembro de 2013

Vou continuar a cansá-los para que nunca te esqueçam.

Por várias vezes, a nossa capacidade de recordar dá azes de sua graça de quando em quando. Se me perguntarem o que fiz ontem há um ano, dois, três ou mais, não vou conseguir recordar. O mesmo se aplica ao dia de hoje ou o de amanhã.
Mas, no ano de 1998, a história é lembrada. Tudo passa como numa fita de um filme. O que fiz no dia 17, no dia 18, e, nos dias que se seguiram. Uma data que tem o peso que eu lhe quiser dar ou estiver disposta a. Já passaram anos em que nada senti, uns outros em que só abraçando a minha irmã pude compreender que há alguém que sente como eu.
Mas, desde há uns anos que a data não é capaz de me fintar e passar despercebida. Penso que na adolescência foi passando assim mais ou menos com umas gotas de álcool e festas mas, agora em adulta, o dia é longo. Muitas vezes como tantos outros que não têm lugar cativo no calendário anual.

Sinto-me como na imagem abaixo.
Uma adulta infantil. 
Uma criança madura.
Um ponto de rebuçado cozinhado em banho Maria.

Uma mistura de dois mundos vividos e baralhados.

Uma revolta misturada por lamento e remorso.

Adiei dois dias aquela maldita visita ao IPO. Tudo por um simples teste de inglês que foi adiado de Segunda para Terça e de Terça para Quarta.

Quarta, dia 18 de Novembro de 1998.

Incrível como a minha Mãe ía desaparecer para todo o sempre e eu não fui a Lisboa no dia 17 por um teste de inglês? Um teste que tirei Excelente, como todos até ao 9ano. Ser aluna de 5 a tudo era a minha especialidade e principal prioridade. Que melhor pessoa isso me tornou! Sim senhora Maria. Um orgulho irónico brota deste peito revoltado a cada passo dado naquelas efémeras horas da vida da minha Mãe.

Aquela Mãe. Que todos teimam em falar de uma forma tão calorosa e respeitada. Uma senhora. Uma verdadeira Senhora. Uma mulher que todos tendem a lembrar com um carinho e amor inexplicável.

Às quatro e um quarto saí do cabeleireiro. Fui esticar o cabelo e, ao chegar a casa fui olhar-me ao espelho. Pronta para esperar pelo pai e ir para Lisboa ver a mamã que, se tudo corresse bem, viria para casa connosco.
Ao sair da minha wc, o pai cai de joelhos à entrada do meu quarto. Ainda hoje, depois de 15 anos, o meu choro fica preso e as minhas mãos param esta escrita para as levar à testa e me segurar.

Não preciso de entrar em pormenores.

Levaram-me dali e só voltei no dia seguinte para uma igreja sobrelotada de gente vinda de tantos lados em que mais de metade eu nem fazia ideia de onde e porque a conheciam.

E pronto. Já são 15 anos a cair e a levantar como tantas pessoas por tantas outras razões.
Eu não sou diferente mas, sou especial. 

Especial porque sou filha da Maria do Rosário.

                    





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