domingo, 22 de março de 2015

A vida que não tem uma vida. Mas poderia ter.


Se a vida tivesse uma vida, se fosse uma pessoa e se desse entrada num serviço de urgências, estava um turno virado do avesso.
Se a vida fosse uma pessoa, seria uma pessoa com uma perturbação da personalidade Grau I: tem dias que é uma querida, dada, uma alegria só. Tem outros que parece que acordou ao contrário. Que nada faz para bater certo.
Se a vida fosse uma pessoa, seria uma pessoa com uma perturbação da personalidade Grau I com risco de Alzeimer e Parkinson associado: tem alturas que treme e nos deixa a ver saltar cada pedrinha da calçada. Parece que o chão nos falha e a memória de tudo o que foi nos abandona sem perdão.
Se a vida fosse uma pessoa, seria uma pessoa com uma perturbação da personalidade Grau I com risco de Alzeimer e Parkinson associado e, Diabetes tipo II: porque a vida pode ser tão doce, tão gostosa, tão deliciosa.
Se a vida fosse uma pessoa, seria uma pessoa com uma perturbação da personalidade Grau I com risco de Alzeimer e Parkinson associado, Diabetes tipo II e, deficiência pulmonar aguda com insuficiência cardíaca: ahhhhh sim!! e se ela não nos cortasse tantas vezes o fôlego e nos deixasse com o coração nas mãos, não seria ela.
No fim de contas, a vida não tem uma vida e não é uma pessoa. 
É uma visita. 
É uma voluntária. 
É uma enfermeira. 
É uma médica. 
A vida não veio para ficar, é uma passagem. Uma passagem que não cobra a ajuda ou o cuidar. 
Somos nós o corpo e a vida. O ser e o fazer. O seguir e insistir. 

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