sábado, 18 de abril de 2015

La Fuga


A emigrante que não quer ser emigrante.
Aquela que saiu sem saber exactamente porquê.
Aquela que ao chegar já queria voltar.
Não à criação de raízes.
Não ao assentar como todos os outros.
Não à normalidade dos outros.
Não ao querer ficar.
E ir para onde?
Voltar para o quê?
Meia dúzia de incertezas e mais alguns porquês.
Uma resma de forças e nem falo francês!
Quando vagueia pelas ruas assiste a casais felizes, a multidões que urgem chegar ao escritório, a almoços em movimento em que se o garfo cai no chão por um empurrão, já o dia começa a correr mal!
Assiste ao passear do cachorro pelo parque, aos primeiros passos do bebé e ao desportista madrugador.
Como assentar num país onde não se quer ficar.
Como arranjar o cachorro se não se tem casa própria.
Como convidar amigos a jantar se a casa é partilhada com estranhos.
Como comprar o carro se conduzem ao contrário.
Como discutir com alguém que não sabe da tua cultura?
Mas lá fora é que é bom. Lá fora é que se está bem. Portugal não é para si.
E vai chegar o dia em que vai aceitar que vai ficar?
Ou vai continuar a adiar cada investimento, cada vontade, cada prioridade?
E vai andando na altivez dos elogios profissionais.
E vai à procura de alternativas.
Vai na encruzilhada do labirinto da fuga.

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